segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Sentir Deus

O homem contemporâneo não sabe falar de Deus porque não sabe senti-lo e não sabe como aproximar-se dele, diz George Waxemberge.
Realmente é assim, se o homem não busca uma forma pessoal ou em grupo de, literalmente, sentir a presença de Deus – Deus nele e ele em Deus – dificilmente viverá o plano divino de sua alma. Pois vai começar a duvidar de sua existência e a cair no vazio da dúvida e na fraqueza espiritual.  A humanidade chegou a um ponto de sua evolução que não quer apenas ouvir falar de Deus, mas quer sentir sua presença e sua ação, sua emanação de luz e seu poder de transformação. E para isto tem que chegar-se a Ele, senti-lo, vivenciá-lo na medida de sua possibilidade e profundidade espiritual.
O homem só se transforma quando esta transformação vem do mais íntimo do seu ser, quando ele não apenas quer elevar-se, expandir sua consciência, mas, sobretudo, quando trabalha intensamente para isto.  E este trabalho, nunca é algo de grandioso ou fora do comum, mas é sempre a possibilidade de viver o dia a dia de forma cada vez mais harmoniosa e fraternal. É a condição de saber conviver bondosa e alegremente com aqueles que nos são, ou que estão mais próximos.
Cada dia nos é dada uma nova chance de aperfeiçoamento, de reconciliação, de harmonização com todos que nos cercam. Roupas, distintivos, alimentação, cursos, grupos, analistas, etc., por si só, de nada valem se não houver aquela querência íntima e profunda de transformação; para que se faça a vontade de Deus e não a nossa.
Se o homem tem uma alma ele deve senti-la e conhecê-la, diz Swami Vivekananda, do contrário passará a duvidar dela. E ela, como a semente, só se manifesta quando o terreno e o “clima” são propícios.
Esta interiorização, este autoconhecimento e autotransformação – salvo raros casos – são gradativos e cheios de conquistas pequenas que não podem ser abandonadas, se queremos, realmente, chegar a um resultado positivo.
Alguns oram e meditam em Deus, em Cristo ou na Mãe Divina, outros apenas indagam: – Quem sou eu? repetidas vezes; uns procuram esvaziar a mente, reduzir os pensamentos até que a presença divina se manifeste. Outros apenas esquecem-se de si mesmos, no trabalho e serviço ao próximo, na paciência e dedicação às crianças, aos velhos e aos doentes.
Entretanto, lamentavelmente, a grande maioria nada faz de real e constante para encontrar Deus ou a própria alma, para reconhecer a Onipresença, para perceber seu ponto de contato real com Deus. E então, vendo, crendo e agindo apenas no mundo material, desligado da seiva do espírito, o homem permanece nas trevas exteriores, no medo, na angústia, ou na revolta e na agressão.

domingo, 14 de setembro de 2014

Linha de Ascensão


         Há foguetes, há satélites e corpos de aço, percorrendo o nosso cósmico... – E você? O que quer? O que procura? – Aonde vai com tanta pressa e quase sem rumo? – De onde partiu e até onde pretende chegar?
         Você sabe que há um caminho e está soando a hora do despertar no silêncio interior e não ter medo de fugir? Só os intimamente fortes conhecem essas veredas. A hora não é de fuga, nem substituições ou escapes. O tempo está maduro em nossas janelas, e a lua se fará radiante para quem abri-las. Mas a noite terá suas escuridões particulares para os retardatários no caminho do universo.
         As claridades estão nascendo e tomá-las em nossas mãos é participar das auroras em tempo de procura ainda. É tomar consciência da vida retomando a linha de ascensão, recolhendo os dados da busca e repartindo-os com os companheiros.
As claridades estão chegando e recebê-las é encontrar-se e dividi-las é crescer. Esse universo que nos prende e, ao mesmo tempo, nos liberta, está falando-nos diretamente e pondo ao alcance humano suas fontes mais preciosas. Os contatos estão estabelecidos e o legado dos pioneiros vai sendo recolhido por todos os que se acham preparados.
         No tempo da maturidade não se pode perder de vista o roteiro novo das estrelas. O perfume de sândalo impregna o ambiente.
         Temos percorrido todas as estradas na busca de um encontro certo, de um reconhecimento e da paz que o mundo escondeu.
         Entretanto, hoje, é o tempo mais próprio para partir com desembaraço de quem possui a certeza, os sinais da luz, os símbolos do caminho.
         O tema se propala por todas as terras e quem pode captar a música universal já começa a compreendê-la. Todo problema tem sido dado ao mundo relativo, sem condições e o homem pode, aqui e agora, encontrar-se e alcançar a verdadeira libertação. Pode modificar todo o panorama de suas metas e ambições. Traves e limitações são irrealidades inventadas pelo mundo da matéria, ou da mente.
         Muitos já percebem os pontos de partida e o trabalho se avoluma, mas de todos depende a arrancada interior e exterior das primeiras revelações. As verdades sempre existiram, o homem só precisa redescobri-las por esforço próprio, para ganhar seu controle.
         A ilusão cria mais ilusão, só a experiência ensina. Experimenta-se sempre para conhecer, realiza-se sempre para compreender. Mesmo aquilo que as palavras não podem explicar ou externar têm forma própria de revelação.
         O tempo urge e a liberdade tem seu preço, mas a luz violeta pode amenizar todas as longas esperas. E a luz branca será para todos a revelação maior do Cristo interno.

domingo, 7 de setembro de 2014

Diálogo

O doce, porém firme convite do não-dizer pode salvar o momento. O encontrar-se no silêncio ou nas palavras diferentes que fingem mudar o curso do pensamento mais forte, mais atuante, conduzem à fronteira certa. O diálogo que amanhece e alonga-se, encobrindo o não-dizer mais íntimo e secreto para a difícil escolha, é necessário.
            A realidade que vive sem palavras procurando o silêncio ou o esquecimento. No último dia deve ter sido assim, pelo que me disseram: um único diálogo simples e lento, vivo e quieto, vago, um desconversar quase sem sentido, como se estivessem dissolvendo-se. Depois um até-logo breve, inconsequente, para encerrar o anti-diálogo. Não houve pressa para ganhar o silêncio.
            Entretanto, tudo estava estranhamente iluminado de azul, de fim de sol, de ar novo, como se não fosse acabar; como se as árvores perguntassem e o céu respondesse o que não foi falado; como se as ruas entendessem e o cenário fosse para as pessoas em júbilo, libertas. E era o fim.
            Pelo não-dizer a importância crescia mais, resolvida ao útil sacrifício do silêncio que deixou limpo o sol, serena a tarde, tranquilos os corações. Depois... a rotina dos passos mansos.
            O não-dizer heróico cumpriu sua missão. A luta que se impôs manteve a dignidade, talvez a Paz, por certo a quietude que pode imitar a morte ou, quem sabe, a espera de um novo século.
            No silêncio a palavra vai ficar muito antiga, porém, muito viva, quase absoluta, na sua forma, no seu canto mudo. Tudo então poderá renascer, algum  dia, em alguma parte.