terça-feira, 29 de março de 2016

O tempo decifrado

       Às vezes, reconhecer o caminho pode se tornar tão doce que os amigos começam a decifrar nos teus olhos o tempo da primavera, o início da festa.
       Primeiro um olhar, um espanto e a surpresa de achar teus olhos iluminados, tua voz mansa, tua palavra firme. O gesto que habita o corpo não é mais o aceno do adeus ou do desespero; antes, é um cumprimento de recém-chegado, é o aperto de mão do que está um pouco à frente.
       Depois, não apenas os amigos notam a diferença, mas ela cresce e se desdobra sobre quase todos, num repartir de ideias, num comungar de passos para que todos cheguem o mais cedo possível, junto à fonte.
       E, quando as manhãs começam a despontar, assinalando os atalhos, para o cumprimento do amor maior, fácil é distribuir alegrias entre as sombras dos que ainda dormem; dos que estão presos ao fantasma dos sonhos da Terra e de seus liames.
       Quando, ainda em pleno inverno, as noites se limpam para que o sol chegue mais cedo, a comemoração é uma necessidade que atinge todos os que têm o coração preparado. Todos os que perguntaram ao silêncio germinam na espera da primeira aurora...
       É tempo de renovar, de iluminar, de recriar porque as horas estão sempre contadas para todos e, cada instante, pode ser preciso no cômputo final das partidas e chegadas.
       E tu, com teus olhos transparentes, sabeis que são apenas preliminares da festa este anunciar de fogos, este afinar de instrumentos para iniciar a harmonia. Entretanto, mesmo assim, todos começam a perceber que tu esperas a luz e já encontraste o mapa do roteiro.
       Tua claridade é tão visível que mesmo os que ainda têm névoas nos olhos começam a perceber a crisálida que aflora como conquista própria das variadas buscas.
       Deixa, portanto, que as palavras, agora, sejam festa em teus lábios até então mudos, para que os amigos recebam o convite maduro de tuas experiências. Deixa que expandam tuas vitórias, para que elas sejam compartilhadas.
       De repente, reconhecer o caminho, pode confortar e ampliar as responsabilidades, como se as sementes houvessem sido postas em tuas mãos para serem usadas em terreno próprio e tempo justo.
       Para isso, aguarda o início do canto para que as intensas vibrações do amor propaguem-se perto ou longe de tua morada; pois não importa quando e quem deva começar a colheita de teus frutos.

       A pérola está a teu alcance.

terça-feira, 8 de março de 2016

Grupos espirituais

“Não invoques o Santo Nome em Vão...”

O caminho espiritual é trabalho sério. Quem resolve trilhá-lo deve estar consciente da opção que fez e das transformações que isto implica.  Não se vai para Deus como se vai a um curso de inglês, de cerâmica, etc.
Fazer parte de um grupo de oração, carismático, de meditação ou de algum outro culto, não é um simples ato agradável, social, terapêutico ou de lazer. Não se pode ir para Deus e encontrá-lo, quando não se tem outra coisa para fazer ou quando se “precisa” Dele num aperto.
O trabalho em grupo depende de um mínimo de disciplina, na frequência, no horário, no ritmo e na integração. Depende também de um certo grau de harmonia com todos os componentes que se reunem, sem exceção de ninguém.
O grupo faz um trabalho coletivo que é da responsabilidade de todos os seus elementos, e não se pode ir para ele, egoisticamente, querendo apenas receber e resolver os próprios problemas.
Se não houver toda essa gama de responsabilidades, o trabalho será sempre imperfeito, incompleto e, portanto, insatisfatório. Quando não dificil, pelo carma que acarreta, pois foi dito que a quem muito é dado, muito é exigido; que as oportunidades não se percam em vão...
Não se busca Deus nas horas vagas e menos ainda confiando nas forças de alguém ou de algum grupo. Somos os próprios realizadores do caminho que queremos percorrer. Ninguém cresce nas avenidas facéis onde a disciplina não é conscientizada. Não se pode fiar no trabalho dos outros sem fazer o esforço que nos compete com inteira responsabilidade, ritmo, persistência e fé em Deus.  
Um grupo é um todo que se eleva ou se deteriora, na medida do comportamento de cada um de seus componentes. Ou se está integrado ou se está desligado, a posição intermediária é perigosa e instável.
Isto é válido para quase tudo na vida. Ou se é um membro ativo ou se desliga do trabalho. Ligar-se aqui e acolá, sem definição, cria grande confusão mental e dúvida, energias estas muito negativas.
Não se invoca a energia divina para depois deixá-la improdutiva ou dispersá-la com atitudes e palavras vãs. A energia que vem através de um grupo deve ser canalizada, praticamente, na vida de cada um, de forma dinâmica e coerente. E também na coletividade, de forma objetiva.
É preciso que haja uma transformação concreta na maneira de ser e de agir, pois do contrário, estaremos nos enganando, pensando que estamos seguindo um caminho de evolução superior.

Não se pode invocar o santo nome de Deus em vão...