quinta-feira, 21 de abril de 2016

Reconstrução

De repente, das linhas simples, dos ângulos mais visíveis, as realidades básicas da vida começam a ser reconstruídas com esmerado apuro, com singular clareza.  Em volta, a luz é suave, amanhecente e ameno é o nosso encontro com o mundo.
Está redimida a longa e sofrida noite, algo indescritível que só a vivência explica. O roteiro dor-depois-alegria só se define e se faz compreensível para quem o percorre.
Os tempos de amargura e luta se acentuam sempre mais, no turbilhão e na intranquilidade, quanto mais próximo é o tempo da paz definitiva. São misteriosos os limites da paz.
Mas, quando a mensagem começa a brotar assim profunda, tudo mais se apequena e perde importância, junto à inesgotável fonte da luz, da harmonia, do encontro definitivo consigo próprio e com o infinito.
É tempo de acordar-se em festa porque as grandes flores estão desabrochando e as mais sutis melodias ensaiam escalas para a sinfonia total. Plenitude deve ser o nome da espera e redenção. Tudo, agora, caminha para o horizonte onde todas as portas se abrem e todos se encontram na mais conciliadora fraternidade.
Não nos enganemos mais, treinemos os passos, pois a caminhada será em ascensão e, em cada etapa um deslumbramento nos alcançará e responder-nos-ão nossas mais intimas indagações.
A Terra já é um lótus de pétalas quase abertas e um perfume novo anuncia as descobertas. De repente, todos os diálogos encontram um mesmo tema e os lábios jovens estão ávidos das mesmas palavras. A renovação é lenta, mas cheia de inconfundíveis sinais que a esperança protege e ilumina.
De repente, o vento passa muito manso murmurando canções, dizendo cores, pedindo forma e, por muito amá-lo, deixamos que se mostre metade presente, metade passado, caminhando sob a abóboda do tempo maduro e desperto. Tudo então se faz simples e claro e as imagens se repetem, apenas, para que todos entendam.
Neste momento até as pedras pedem a palavra, a beleza dos lírios convida a manhã, como se dela viesse nosso mais secreto encontro.  Já fomos informados que quando estivermos prontos, a luz se fará irresistível e nosso rumo percorrerá a vertical luminosa onde moram as estrelas e onde habita o amor.
Somos herdeiros deste instante e o doamos ao mundo, em comum oferenda para que renasçam flores sobre toda a Terra e se deem as mãos os irmãos conciliados.
Por um momento, o sol passa a ser tanto fogo como amor, e o mundo cresce consolado porque investigou a Luz.