Sim, esta noite foi que luz e galáxias translúcidas se manifestaram. Soou o canto da alvorada e a nota se alongou incorpórea, repercutindo em todo o ser. O som filtrou-se em busca do infinito.
Como um clarim distante houve um chamado, há muito perdido na memória e formulou a ordem de regresso; cones de luz, espirais de prata penetraram o sono e sacudiram o ser...
Não houve dúvida, era o reencontro; o reinício da jornada de regresso, a lembrança do antigo lar. A voz, muito melodiosa, entoou o canto, como se conhecesse o tempo propício da flor entreabrir.
Sobre a primeira pétala registrou-se o comando, o símbolo, a semente de vida, para o lótus gire sobre si. No céu a lua clara comandou o ritmo, registrou a freqüência do impacto.
Soou o despertar no cálice do coração e, quase ninguém percebeu que havia festa sobre o altar. Manso e estranho acordar de um sono de séculos; voz de retorno e de permanência, contato com a própria realidade.
Uma presença velava o passo inicial enquanto a transformação se processava no mais íntimo. Dourados reflexos de luz amanhecendo; comunhão de um sucessivo girar e desabrochar. Alvorecer da alma.
Não é tempo ainda de soltar os pés do solo térreo, mas a manhã aflora quebrando os limites, os condicionamentos. A viagem começou e o infinito vai crescendo dentro do finito; ninguém deterá a irresistível subida.
Agora, é um não indagar, não planejar, não falar, agora é um simples aspirar, um leve flutuar, um entregar-se a corrente viva.
A identificação pousa no campo do silêncio e exige quietude e contemplação, derrama-se sobre tudo, unifica todos. Não mais o corpo, a mente, as ondas da emoção; tão só o campo novo da experiência do conhecer-se do iluminar-se, do permanecer no eterno.
Se ainda há barreiras é de luz e cores, de expressões diversas, de crenças humanas erradas, de preguiça para um trabalho interno intenso. A mente poluída e ignorante de seus próprios recursos interno, se perde em distorções e medos, em poluições e egoísmos, se fixa e busca suporte no mundo externo e nos seus precários recursos visíveis, onde os valores são limitados e são perecíveis.