segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O que fala em mim

Agora já não canto o tempo, o céu, o vento que se agita; guardo esta pequena voz para o que vem a mim, esse divide em ternura e verdade. Hoje, digo a palavra do que fala no silencioso mundo de um interior que se vai iluminar; canto, à fonte da vida, os hinos do caminho.
Perdidos estão os contatos exteriores com a terra e, quando dela germina o trigo, ouço apenas o canto Daquele que tem o germe e conhece o tempo da colheita. Quando as flores se fazem vistosas e perfumadas, penetro-lhes até à seiva para conhecer o desdobramento da semente que, madura, começa a revelar segredos.
Agora já não canto meu canto; tenho a palavra do que fala em mim e, conhecendo cada passo, fortalece o tempo da espera, desvenda e explica cada novo degrau. E, por isso, tenho passos despreocupados que dançam na busca do caminho, certos de que todas as estradas são de vida e há um roteiro para cada um.
Hoje, calei minhas palavras para estudar o silêncio e captar os sons do universo, onde se arma a sinfonia das realidades mais profundas. Já não posso estar só, porque a comunhão com o Todo dissolve as barreiras da mente isolada que cria a fantasia das ausências e da solidão.
No limiar das portas do amor as plenitudes começam a esboçar-se, como semi reveladas pela névoa. E, de repente, no meio do torvelinho a terra torna-se doce e serena para que, doce e sereno seja o coração.
Mansa é, portanto a palavra que, agora, canta em mim. E conhecendo sua força, fácil é entregar-me ao leve despertar. E se hoje conto este caminho não é pelo simples gosto da história, mas por saber que os roteiros são mais ou menos semelhantes em seus marcos primários; faço-me presença para aquele que também busca.
Agora, já não quero tempo, o céu, ou o vento. Ensinaram-me o caminho das estrelas, o transbordamento do orvalho, o crescimento do amor que se faz aurora com o canto dos pássaros, e revelação, com o conhecimento da beleza em sua fonte original.
Anuncio a festa que ainda não conheço totalmente, mas posso pressentir, porque as vibrações de seus clarins chegam-me cada vez mais perto e a descoberta não pode mais tardar.
A cada madrugada, em cada entardecer, a comunicação se estabelece mais nítida e a presença mais certa.

Sabendo que acordar em plena madrugada, quando a luz tudo promete, é o destino de todos, grato se torna fazer um silêncio imenso enquanto canta em mim Aquele que se realizou em manhãs mais sutis e, agora, estabelece correntes de amor para que outros se ergam.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Energias de transição

Os tempos atuais são surpreendentes tempos de transição, em que as energias da revelação estão à porta e batem. Aqueles que estiverem com o caráter limpo, aquietados e voltados para a luz e o bem comum, recebem delas sua força e orientação; são por elas permeados e vivificados.
Há um milagre à espera de cada buscador da verdade que se prepare para encontrá-la e, só não participa dela, os que estão profundamente centrados nas solicitações efêmeras da matéria densa. Muitos agora são chamados e despertados.
O apego ao nível de expressão mais densa da vida, em contínua revelação, afasta-nos das mais óbvias belezas e verdades ao nosso alcance e já vivenciadas pelas correntes de forças angélicas; também elas, hoje, novamente mais próximas da humanidade em busca e aspiração.
A criatividade contínua do Pai, como fonte jorrante, está ainda oculta aos nossos olhos impregnados de sombras, medos, desassossegos e inquietudes, porém, cada vez a luz se faz mais exigente e presente.
A cada dia o maravilhoso se faz e se refaz à nossa porta. Bate e chama-nos pelo nome como se fosse especialmente para nós cada milagre daquele novo dia, criado em auroras e brandas vibrações de luz.
Cada hora pode ser um tempo de benção e de louvor para os que se recolhem em prece e paz, em amor e entrega. Cada tempo é novo no seu júbilo e sua maneira de levar ao mundo os acontecimentos variados e as lições do dia amanhecido.
Somos todos convidados de uma festa sempre renovada que cumpre um ritual e se desfaz, em sons e brilhos, se não a compreendemos ou se não usufruímos dela e de suas horas profundas e reveladoras.
É no contato com as energias cósmicas mais ritmadas e sutis que a maior beleza se apresenta e reconstrói nosso mundo interno quantas vezes for necessário.
A luz é sempre um convite atrativo que incansavelmente se renova em experiências diversas e que vem ao nosso encontro, mesmo no tempo do desencanto. Não se pode, para sempre, recusar seu convite e sua oferta de unidade, ou seu poder evolutivo transformador.

A luz está à porta e bate, quem puder ouvi-la e entendê-la deve abrir-lhe a porta de par em par e aguardar o milagre que infalivelmente vem sem dia e sem hora marcada.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Dois Mundos

Estamos ligados a dois mundos: interior e exterior, matéria e espírito, inferior e superior, luz e sombra, etc., conforme queiramos chama-los. São duas modalidades de vida, uma na superfície, instável, mutável, intranquila, outra em profundidade firme, forte, serena, luminosa.  
Na periferia do mundo vivemos sempre divididos, ansiosos, ambiciosos, insatisfeitos, gozando prazeres e sofrendo dores sucessivamente. Só no interior está a possibilidade do primeiro contato com o Criador, com a Fonte, com Deus. Só ligados a esse algo maior do que nós mesmos desfrutamos da seiva viva que nos dá plenitude.
Os tempos nos mostram que esse autoconhecimento humano está chegando rapidamente para muitos; não só para um punhado de santos ou escolhidos, mas para todos que buscam, que se esforçam, que pedem. Seja através da devoção, da ciência pura, da filosofia ou do estudo da natureza da mente e sua atividade. O reino está dentro de cada um. Físicos, psicólogos, médicos avançados, pesquisadores do espírito estão todos dizendo e experimentando vivências semelhantes.
Quem fica na superfície e se contenta com o mundo exterior, desordenado e invertido em seus valores básicos, sentirá sempre um vazio, uma angústia, uma dificuldade de relacionamento, uma doença que ora se manifesta numa parte do corpo ora em outra, ora num acidente, ora num acidente, ora num desastre financeiro. Quando não há paz interna e trabalho para o autoconhecimento, dificilmente há possibilidade de uma vida sem carências e sem intenso sofrimento.
Sem caminhar consciente e decididamente rumo à luz maior, rumo ao Pai Universal, sua energia e sua vontade, o homem é sempre um ser incompleto, medroso e insatisfeito em várias fases de sua vida terrena.
Mas essa união do homem com Deus só vem quando é muito procurada e desejada, quando caminhamos para Ele querendo conhecê-lo e experimentá-lo em união conosco; e não quando vamos a Ele querendo coisas ou soluções para nossa vida de superfície. Só depois da experiência, do encontro verdadeiro com a Fonte da Vida uma é que o homem pode sentir-se ligado a Deus em todos os seus trabalhos externos. É essa a finalidade de toda religião ou culto, religar o homem ao Criador, fazê-lo renascer pelo espírito.