Aquele
que já descobriu a importância do autoconhecimento e o busca, intensamente, é
como o nadador que, inicialmente brinca à flor da água e depois começa a
mergulhar cada vez mais profundamente. E, quanto mais desce, maior se faz a
pressão.
Não se pode ir ao encontro da luz maior, pensando em facilidades
de qualquer espécie. A porta é estreita, o caminho áspero, a cruz pesada. Mas
não faltará ajuda e a luz atrairá mais e mais o que a busca.
É num mergulhar, cada vez mais profundo, que se vai descobrir
insuspeitados tesouros. Muitas vezes se deslumbra e quer-se permanecer junto
deles, mas se o fôlego ainda é curto deve-se voltar à superfície, para
respirar. De vez em quando, vem-se à tona, mas sofre-se a lembrança do reino
vislumbrado, tocado e deixado, e novamente volta-se à busca.
O impulso para evoluir é uma pressão constante em todos, e
quando colaboramos com ela, ela nos incomoda menos e passa a nos oferecer
gratificações insuspeitadas.
Quanto mais se mergulha no próprio interior, mais condições se
tem de aprofundamento e de permanência junto às riquezas encontradas. A vida
linear da superfície horizontal perde sua grande importância e sua dimensão
limitada, para nos mostrar uma vertical sem limite.
Quem ouviu, por uma única vez, o canto suave da sereia interior
estará enfeitiçado para sempre e destinado a chegar à luz mais cedo. Sua
realidade mais plena centraliza-se na expansão da força interna que ele
conhece, porque já a tocou e sabe que chegará sempre a ela, pelo caminho da
purificação, da fraternidade e do sentido de unidade de tudo. Fora disso são
vãs as tentativas de realização, paz ou felicidade.
Quem tem em si a música é forçoso que a palavra cante. Quem
mergulhou na luz não pode deixar de espalhar fosforescências em seu caminho.
Não por determinação própria, mas pelo testificar de sua vivência.
(Do livro Vida Integral. P.34, 1984,
de Célia Laborne)