A travessia dos 96 anos de vida
Não há lição maior do que a de uma
pessoa que passa dos 90 anos. Para mim, chegou a vez de aprender com a inesperada
pandemia da COVID-19, nada agradável de se atravessar, mas que, realmente, nos
ensina muitas coisas.
Hoje, eu me vejo passar por um
tempo desafiador, não de todo lúcida, mas sempre assimilando alguma profunda
verdade, que provavelmente não encontraríamos de outra forma. Estou vencendo
etapas que não estavam no meu programa, mas que me trouxeram pedaços da grande
sabedoria que só Deus pode nos dar, quando nos fixamos nos seus ensinamentos
mais profundos.
Eu busco sustentação nas bases da
filosofia oriental, que aprendi a amar e difundir aqui no Ocidente. Lições de
profunda sabedoria milenar que nos trazem para o centro de nós mesmos,
proporcionando o aprimoramento da nossa espiritualidade. A exemplo disso, a
recente pandemia envolve toda a humanidade, sem que para ela estivéssemos
preparados.
Esse vírus agressivo veio alertar a
humanidade para que nos voltemos mais para aquilo que o universo nos pode dar e
nos faz compreender melhor a vida em sua plenitude. Assim também como a
antivida, ou seja, uma forma de viver sem razão de ser, sem consciência do
propósito mais profundo de estar nesse planeta.
Uma das lições aprendidas na
pandemia é a necessidade de se criar um novo modo de convivência, já que não
podemos abraçar, nem mesmo nos aproximar das pessoas que amamos. Estamos
recorrendo às forma virtuais para abastecer a ausência pessoal dos parentes e
amigos, que se tornam presenças constantes na nossa comunicação.
Confesso que, graças à Internet, eu
me sinto até mais integrada com todos apesar do distanciamento físico que nos
foi imposto. Percebo que tem brotado sentimentos muito positivos nas
manifestações que recebe dos amigos. As mensagens são sempre calorosas, cheias
de empatia, de benevolência e abundantes em poesia. E, Assim, seguimos
compartilhando afetos, vivendo e aprendendo também com a pandemia.
Para mim, é uma dádiva atravessar
os tempos atuais acompanhando e usufruindo das novas forma de comunicação que
me são apresentadas e que me conectam com o mundo, sem sair do espaço em que
vivo.
Quando olho pelo retrovisor da
minha vida como um todo, vejo um filme que protagonizei com dignidade e, até
aqui, no alto dos meus 96 anos, eu me sinto vitoriosa e agradecida por
participar de tantas cenas significativas e ter muitas histórias para contar.