Foi da profundidade muito tranquila
e transparente, de serenos lagos, que nasceu esta forma flutuante. Pois quando
a paz se cristaliza, as verdades podem revelar-se.
A forma se tornou particularmente
nova, surpreendentemente antiga, cheia de aparentes paradoxos, como uma ponte
em suspenso sobre um passado que cumpriu o seu destino e um presente que se
prepara para ser iluminado.
Falo-te, hoje, como se conhecesse a
canção, como se penetrasse o lago. Desenho-me imóvel, sob a tarde, para
prosseguir as pesquisas num interior que se abre à menor luz.
Flor da terra, muito úmida e fresca,
brota-me a palavra para quebrar teus limites, teus muros de antigas separações
e mostrar-te onde ficam as nascentes, os caminhos ensolarados, as terras de
encontro. Doce e breve flor do reencontrar transformo-me para que tenhas teu
sinal visível no roteiro.
Brandamente, uma melodia, que podia
ser mística, tal a suavidade das notas, introduz-se em nosso silêncio compacto
para apressar as revelações. E, ao comando de vibrações puríssimas, podemos
facilmente completar a história que nos foi dada para que novos companheiros de
vestes alaranjadas se sentem ao nosso lado.
Sinto que devo dizer-te que vai
nesse encantamento um mar imaturo, imagem quase infantil à espera de
crescimento. Não sei por que só posso traduzir em flores a linguagem
estrangeira que se deve integrar nas noções da vida real para que seja
alcançado o meu dever de intérprete.
O mundo apagado e convulso rebela-se
esquecido das potencialidades vigorosas que devem ser cultivadas, parcela por
parcela, até que cada um forme sua unidade de paz e sabedoria.
Por ora, um céu de astronautas em
pânico cobre algumas cabeças em ebulição e, por mais alto que se gritem as
verdades, poucos estão aptos ao convívio das estrelas.
Por isso, digo-te, não te apegues
aos destroços que não te satisfazem, não sejas um náufrago entre ideias e
correntes, inconformado, mas sem coragem de ousar entrar pela porta das
grandezas, onde não entrarás se não te fizeres simples.
Não se é feito para se ficar sempre
no mesmo lugar, ou para girar sobre si mesmo, na superfície, como piorra
infantil. O mergulho, em profundidade, é que dá dimensão certa à vida. E a
verdade livre é estável, amorosa, consoladora, porém extremamente exigente em seu
preço de luta e resgate, para o encontro consigo mesmo e a meta final. Põe a
pérola na concha de tua mão.
Estamos em pleno tempo de difíceis
mudanças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário