Nada
há mais profundo e harmonizante do que se situar, conscientemente, num trabalho
de auto-aperfeiçoamento diário. Essa deveria ser a linha básica e comum do
procedimento da humanidade se ela não tivesse perdido, entre brumas, há muito
tempo, o sentido de sua divindade. Pois
é da natureza e da essência do homem germinar sua semente de luz e libertar-se.
Os caminhos são múltiplos.
Entretanto, quando se fala em
autoconhecimento ou aperfeiçoamento, não se quer significar tomadas drásticas e
radicais de posição que possam violentar o raciocínio ou o conceito correto da
vida.
Ensinamento algum tem em vista
tornar, de repente, toda a humanidade asceta (austera) e renunciante. A cada um
vai sendo pedido na sua correta medida, na sua presente disponibilidade. É
preciso pois que haja essa disponibilidade para
que se realize o modelo inicial de cada criatura.
O que a Verdade tem pretendido, há
longo tempo, é um melhoramento gradativo e constante que se vai traduzindo no
ambiente familiar, na sociedade, na profissão e em qualquer relacionamento
humano.
O dia a dia pode ser um ativo
renovar de idéias, uma permanente tomada de consciência do ser real, uma
purificação da mente e da estrutura do trabalho. Pode ser um crescimento do
amor no seu plano universal e humano.
O homem é o que pensa, transforma-se
segundo o que pensa sempre, renova-se e liberta-se quando domina a mente e os
sentidos. Mas o mundo anda por descaminhos tão desconcertantes que a maioria
dos homens se sentiria envergonhada de ser apanhada e flagrada num plano de
auto-aperfeiçoamento. Muitos ficariam constrangidos se tivessem que confessar
que almejam e se esforçam por uma vida mais pura, mais limpa, mais fraternal;
que sentem falta do alimento espiritual ou da prática da caridade.
Entretanto, toda a luta do homem
consiste em estar mais consciente de sua natureza, origem e propósito na vida,
de ser capaz de perceber sua unidade com o perfeito e o eterno. A luta do homem
é em torno de uma mente desordenada que se fez vaidosa e egoísta, que se
concentra na matéria como única realidade de vida.
Quando o homem examina a própria
mente e a origem do pensamento e chega a perceber que pensador e pensamento são
um só, o milagre da liberação se faz espontâneo, a roda do sofrimento para.
Só quando não percebemos que sem a
mente não existe o pensador é que somos escravos do pensar e confundir-se.
O homem dormindo é aquele
aprisionado nas suas próprias redes mentais, nas suas limitações autotraçadas
que lhe minam o corpo e o enchem de ambição e medo.