Acordei hoje leve e orvalhada, vestida de sol; e assim, falo-te como se
já conhecesse a Canção da Vida, como se penetrasse a transparência do lago.
Permaneci imóvel, para prosseguir nas buscas mais profundas num interior onde,
lentamente, aflora a primeira luz. Não o esplendor da luz, mas o primeiro
raio...
As palavras brotam hoje como sementes rompendo a terra dura, quebrando
limites e antigos muros de velhas incredulidades, de ancestrais heranças, de
coletivos acúmulos de ideias.
É que o sol que chega, por isso, abrem-se os caminhos ensolarados, o
solo do encontro, as nascentes muito claras, para que ninguém se perca na
noite.
Breve flor de secular reencontro transforma-me para dar-te um sinal
visível, além das portas fechadas e dos biombos escuros. Falo-te agora do sopro
suave da flauta mágica, música que por vezes quebra o silêncio e canta o
simbolismo da eternidade, do som manifestado.
Sob o comando de vibrações muito rápidas pode-se facilmente contemplar a
vida que nos foi dada viver, os caminhos percorridos, as flores perdidas, as
sementes encontradas.
Devo dizer-te que vai nesse encantamento, um envolvimento ainda não de
todo claro, não de todo definido e assimilado ou desvendado. Há sempre um tempo
de espera para que se firmem as conquistas mais sutis, as vitórias mais
elevadas...
Todas as linguagens parecem estrangeiras para se traduzirem os momentos
interiores do despertar, as vidências da luz; e a missão do intérprete dessas
belezas é sempre difícil e incompleta.
Até que tu e cada um dos nossos se integrem na consciência cósmica, por
certo muitas luas vão passar ainda, mas o roteiro está marcado e assinalado.
Harmonia e Paz estão desenhadas no éter à espera da transmutação de cada
coração, da expansão de cada consciência. Mas, por mais fortes que sejam os
desenhos poucos elevam os olhos para percebê-los, pouquíssimos estão
definitivamente aptos ao convívio com as estrelas mais brilhantes.