Andou
depressa, quase correu, chegou cedo sem saber para que.
Olhou
desconfiado a sala de aula. Sala vazia, cresce, dá medo. Carteiras sem meninos
são frias, agressivas.
Entrou
tímido. Não era o primeiro da classe, não era capitão de time, nem o mais
levado ou o pior nos estudos.
Olhou
desajeitado. Menino oitavo lugar, menino reserva de time, moreno claro, sete e
meio de comportamento.
O
quadro negro fazia assombração na parede nova.
A
professora trouxe a fila de crianças alegres e as arrumou nas carteiras, como
uma caixa de bombons.
Professora
bonita – bombom de licor – menino queria agradar, menino desapontado não
agrada. Queria tirar zero, mas tinha estudado a lição. Queria ganhar dez, mas
tropeçou no vestido novo da professora e não disse o fim da análise lógica.
Encabulou-se, riram dele.
Menino
queria ir embora, mas a casa não era mais bonita do que a escola. Queria ficar
de castigo, mas estava quieto ouvindo e olhando a professora. Queria medalha,
mas a nota não dava.
Os
anos correram logo. Menino não levou bomba, não foi o primeiro da classe, não
teve medalha nenhuma.
Menino
estudou muito. Ganhou diploma: Matemáticas, Português, desapontam, Química,
solidão, Latim, tristeza.
Quando
crescesse mais, certamente seria diferente.
A
infância deu um pulo. Encurtou rapidamente, achou o homem menino ainda e tudo
que devia ser fácil ficou mais complicado, mais 8º lugar, mais reserva de time.
O
menino então se lembrou de gritar, espernear, procurar as coisas de qualquer jeito.
Leu, indagou, pediu, fez papel feio, tomou vitamina, viajou, pensou difícil.
Uma porção de ideias nasceram desencaminhadas, procurando estradas que não eram,
dias que não estavam na folhinha, vozes que o vento levara.
Menino
grande correu, cansou, chorou, deitou-se para morrer; a morte não o quis. De
repente, uma ideia pequenina – cara de reserva – o chamou de novo. Menino
grande levantou-se, viu um trilho estreito – coisa à toa – menino crescido
indeciso, medroso, querendo ser forte, corajoso, querendo tudo. Escorregou, foi
devagar, tropeçou, achou ruim, insistiu ainda. Caminho difícil, mas quis seguir
sem saber para onde. Andou tanto que começou a ter o passo firme, desenvolto.
Aprendeu a respirar, achou graça nas árvores, nos pássaros, descobriu caminhos
novos, assobiou alto.
Sem
saber como, menino foi aprendendo a ver, a ouvir, a viver. Menino agora, não era feio, não era bonito,
era vitorioso. Olhou-se no espelho, menino sumira, descobrira meia verdade. Fez
uma festa, contou a todos, riu alto, rezou escondido.
Era
bonito vê-lo assim, olhos transparentes, contando coisas recém-encontradas,
como se todo o mundo estivesse recomeçando com ele. Tinha rosto sereno, mãos de
espera. A vida era dele, sem desaponto, sem reserva, sem medalha alguma. Só vitória.
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