Não mais irei ao encontro da noite como única companheira, ou à terra do silêncio como refúgio às respostas que não tive. Dispenso a bagagem de longa caminhante.
Já não partirei. Quero de volta o meu lugar, minha rota, meus sapatos. Não chamarei a morte para repouso do meu ser, nem cobrirei o rosto para tirá-lo, vivo ainda, do mundo que palpita.
Não quero a fuga ou o desterro. Resolvi tomar todas as armas e fixar meu acampamento para qualquer resistência. Tentarei sair dos sonhos, do cerco dos fantasmas, para a realidade que sempre evoluirá em luz, mais luz.
Vou contar as horas com curiosidade, descobrindo tudo que olhei sem ver ou que vi sem existir. Aceitando o medo, posso medir-lhe o tamanho e transpor os seus limites, porque junto acima dele sempre haverá paz.
Vou acender a noite para que ela não me intimide. Quero música e silêncio intercalados, convivendo como amigos.
Já não vou seguir. Quero a extensão da alma na amplidão da vida e ficarei acordada à espera de um canto ou de um sorriso para entender o mundo de forma diferente. Para descobrir ou redescobrir o que ele escreve em suas entrelinhas; as palavras que diz, as que sugere, as que esquece nos bancos das praças e nos encontros com amigos.
Vou ver o que ele liberta, o que esconde, o que arrebata; saber como se luta nele e se sobrevive. Se queres levo-te comigo. Vou indagar das confidências da noite sobre os lagos mansos, ou da voz das folhas habilmente manejadas pelo vento.
Posso até querer as palavras para uma intimidade com as letras que não soube ler ainda.
Um comentário:
leios também as entrelinhas das folhas que o vento manipula. Hábil-mente.
Parabéns pelos textos.
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