Sondando-se os abismos e os liames da vida,
vai-se descobrindo que o mistério do mundo está morando no silêncio, à espera
do dia da revelação individual. Longe dos ruidos, do tumulto, longe da
inquietação mental a realidade se abre como flor do pensamento e se entrega ao
indagador. Ali, o conhecimento se desdobra em luz, numa naturalidade de fruto
que amadurece e espera ser colhido.
Na mansa quietude do despertar do dia, ou
no morno entardecer, os momentos de silêncio são mais propícios e pode-se
esperar que se façam neles nossa iniciação como participantes da natureza e de
sua expansão.
O Uno princípio da vida, que tudo anima, e
tudo completa, revela-se visível quando a tranquilidade mental e o silêncio
total permitem que sejam ligadas as sutis antenas do constante buscador da
verdade.
Na concentração de um momento sem cor, sem
forma e sem individualismo, a força maior aflora para que os homens conheçam
suas origens e realizem seu destino. Na harmonia interior abrem-se os caminhos
mais livres, para o encontro com a vida real.
É consolador saber que, para todos, haverá
sempre o dia do silêncio e da paz, pois a angústia crescente do mundo é o sinal
mais visível de que as buscas interiores estão sendo intensificadas, para que
mais cedo se faça a luz.
E conhecendo os seus caminhos pode-se
esperar, então que muito de leve, a alegria se insinue e atravessando as
sombras densas proclame seu reino de imponderáveis conquistas.
Quando se comunga com a natureza, qualquer
raio de sol pode emprestar coragem, alentar e dinamizar. Muito brandamente,
como uma canção, todos os gestos se esboçam para a reconciliação geral, muito
além de todos os temores e egoismos, próprios da infância espiritual.
Entretanto, em cada dia de silêncio, haverá
sempre o direito de refazer a vida, o amor e a confiança, como se das simples
mãos dadas, dos gestos fáceis, pude-se brotar todo o milagre do sereno encontro
com o mundo interior, onde todas as notas se afinam.
Muito de leve, a alegria pode instalar-se,
como quietude que se expande e complementa todo o vazio da superfície de
vivências perdidas.
Vale aguardar, a cada hora,
a redenção diária, vale indagar do silêncio, seus caminhos maiores. Porque
sempre, como o poema que modula, a flor se abre e desvenda o perfume,
descerrando o véu das incertezas para as claridades esperadas. Então, a
comunicação é natural, entre todos e entre tudo, como astros que escrevessem,
no céu, sua hora de luz. O rubi cintilará em teu dedo.
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