domingo, 23 de setembro de 2012

Concentração



Sondando-se os abismos e os liames da vida, vai-se descobrindo que o mistério do mundo está morando no silêncio, à espera do dia da revelação individual. Longe dos ruidos, do tumulto, longe da inquietação mental a realidade se abre como flor do pensamento e se entrega ao indagador. Ali, o conhecimento se desdobra em luz, numa naturalidade de fruto que amadurece e espera ser colhido.
Na mansa quietude do despertar do dia, ou no morno entardecer, os momentos de silêncio são mais propícios e pode-se esperar que se façam neles nossa iniciação como participantes da natureza e de sua expansão.
O Uno princípio da vida, que tudo anima, e tudo completa, revela-se visível quando a tranquilidade mental e o silêncio total permitem que sejam ligadas as sutis antenas do constante buscador da verdade.
Na concentração de um momento sem cor, sem forma e sem individualismo, a força maior aflora para que os homens conheçam suas origens e realizem seu destino. Na harmonia interior abrem-se os caminhos mais livres, para o encontro com a vida real.
É consolador saber que, para todos, haverá sempre o dia do silêncio e da paz, pois a angústia crescente do mundo é o sinal mais visível de que as buscas interiores estão sendo intensificadas, para que mais cedo se faça a luz.
E conhecendo os seus caminhos pode-se esperar, então que muito de leve, a alegria se insinue e atravessando as sombras densas proclame seu reino de imponderáveis conquistas.
Quando se comunga com a natureza, qualquer raio de sol pode emprestar coragem, alentar e dinamizar. Muito brandamente, como uma canção, todos os gestos se esboçam para a reconciliação geral, muito além de todos os temores e egoismos, próprios da infância espiritual.
Entretanto, em cada dia de silêncio, haverá sempre o direito de refazer a vida, o amor e a confiança, como se das simples mãos dadas, dos gestos fáceis, pude-se brotar todo o milagre do sereno encontro com o mundo interior, onde todas as notas se afinam.
Muito de leve, a alegria pode instalar-se, como quietude que se expande e complementa todo o vazio da superfície de vivências perdidas.
Vale aguardar, a cada hora, a redenção diária, vale indagar do silêncio, seus caminhos maiores. Porque sempre, como o poema que modula, a flor se abre e desvenda o perfume, descerrando o véu das incertezas para as claridades esperadas. Então, a comunicação é natural, entre todos e entre tudo, como astros que escrevessem, no céu, sua hora de luz. O rubi cintilará em teu dedo.

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