quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Convite



Acordei.
         Os olhos semi-pesados de sono encontraram a manhã muito nova, como se fosse convite. O avião passou voando tão baixo que assustou todos os pássaros e quase roçou minha janela.
         Não havia dúvida, era o convite renovado. Parti com ele.
         No primeiro instante, fiquei um pouco constrangida. Entrar assim, de pijama, rosto sonolento, cabelo despenteado no avião elegante, era experiência imprevista, para mim e para os passageiros sempre medrosos de surpresas. Alguns olharam-me espantados. Uma senhora de chapéu moderníssimo e luvas extravagantes chegou a arranjar uma expressão escandalizada! Fez-me pequena com seu pensamento claro de que eu era intrusa. Pensei até que iria chamar a aeromoça para atirar-me fora do avião.
         E talvez não me importasse! Aquela manhã não deixava zangar-me com ninguém. Não sei se ela o percebeu, mas permitiu-me ficar.
         Sentei-me no último banco. Minha intenção era seguir e não assustar os passageiros. Seguir assim, desligada das coisas. Sem malas ou reservas de passagens. Sem ir correndo para o aeroporto, vencer a angústia da espera e os momentos de despedida. Ir embora sem destino para me fazer liberta do bojo do avião.
         Depois, encontrar lá em cima, uma paz extensíssima. A paz há muito procurada e que agora vinha de presente.
         As nuvens, muito à vontade, faziam castelos esquisitos para uma legião de ventos inquietos. O céu chegava tão puro, tão alto, que não era atingido nem pelos pássaros deslumbrados.
         E o avião tocava-o como coisa sua! Traçava uma linha de fuga para um pouso desconhecido. De repente, a aeromoça chegou real, trazendo laranjada e o sorriso bonito que ela põe nos lábios em todas as viagens. Achou graça porque eu não sabia para onde íamos. Ofereceu-me revistas e mostrou-me uma praia como possível meta.
         Pouco depois, já se podia ver a brancura paciente da areia aguardando as águas indecisas.
         O mar, que o avião fizera mudo e quase imóvel, vingava-se em brilho e atração imensa. A terra abraçava-o carinhosamente, defendendo-o do abismo do céu. Era a competição espontânea entre céu e mar... A curiosidade insistiu comigo para saber do piloto qual a sua escolha.
         O avião fez-se criança para a grande hora. A porta da cabine ficou branca para não contar nada a ninguém. Resolvi transpô-la. Mas, a senhora elegantíssima, de luvas extravagantes, não suportou mais a minha presença. Atirou-me fora. Sem mar, sem céu, numa queda de regresso para um quarto escuro de janelas pequenas.
         Mas, seguirei de novo, um dia qualquer de céu de convite, estou certíssima.

__________________//_________________

CURIOSIDADES

·      Recentemente li uma estatística de que, a cada ano, é maior o número dos adultos que vivem mais de 80, 90 e mesmo muito mais.  Ainda assim há cientistas divulgando o estudo de novas vacinas para a vida humana ser sempre prolongada. Seria interessante perguntar a esses longevos – quase sempre solitários ou reunidos em casas de repouso, se eles gostariam de viver muito mais.
·  Jornais, revistas e panfletos estão diminuindo ou sendo descartados porque os editores se preocupam em aumentar apenas as fotos e ilustrações e se esquecem de fazer o mesmo com as letras e legendas que exigem sempre uma vista jovem. Os jovens hoje preferem os eletrônicos mais rápidos do que as tradicionais máquinas do passado.
·      Conheci duas pessoas; uma pedia a um parente que trouxesse dos EUA um rádio de pilha que era seu companheiro inseparável, suprindo tudo aquilo que ela já não conseguia ler; a outra fazia a mesma encomenda a um parente que ia para a Alemanha. É que o comércio brasileiro ainda não percebeu que os rádios de pilha são novamente práticos e mais usados pelos mais velhos, que têm dificuldades em usar os aparelhos eletrônicos ou ler textos de letras de tipos menores. Quanto mais se vive mais a vista torna-se enfraquecida.

A PEDIDO

CRISTAIS E TAROT – A senhora Rosa nos telefonou e nos pediu que comunicássemos aos interessados que ela está trabalhando com cristais e com o tarot. Para entrar em contato, o telefone é (31) 8865-9240.

Nenhum comentário: