Acordei.
Os olhos semi-pesados de sono
encontraram a manhã muito nova, como se fosse convite. O avião passou voando
tão baixo que assustou todos os pássaros e quase roçou minha janela.
Não havia dúvida, era o convite
renovado. Parti com ele.
No primeiro instante, fiquei um pouco
constrangida. Entrar assim, de pijama, rosto sonolento, cabelo despenteado no
avião elegante, era experiência imprevista, para mim e para os passageiros
sempre medrosos de surpresas. Alguns olharam-me espantados. Uma senhora de
chapéu moderníssimo e luvas extravagantes chegou a arranjar uma expressão
escandalizada! Fez-me pequena com seu pensamento claro de que eu era intrusa.
Pensei até que iria chamar a aeromoça para atirar-me fora do avião.
E talvez não me importasse! Aquela
manhã não deixava zangar-me com ninguém. Não sei se ela o percebeu, mas
permitiu-me ficar.
Sentei-me no último banco. Minha
intenção era seguir e não assustar os passageiros. Seguir assim, desligada das
coisas. Sem malas ou reservas de passagens. Sem ir correndo para o aeroporto,
vencer a angústia da espera e os momentos de despedida. Ir embora sem destino
para me fazer liberta do bojo do avião.
Depois, encontrar lá em cima, uma paz
extensíssima. A paz há muito procurada e que agora vinha de presente.
As nuvens, muito à vontade, faziam
castelos esquisitos para uma legião de ventos inquietos. O céu chegava tão
puro, tão alto, que não era atingido nem pelos pássaros deslumbrados.
E o avião tocava-o como coisa sua! Traçava
uma linha de fuga para um pouso desconhecido. De repente, a aeromoça chegou
real, trazendo laranjada e o sorriso bonito que ela põe nos lábios em todas as
viagens. Achou graça porque eu não sabia para onde íamos. Ofereceu-me revistas
e mostrou-me uma praia como possível meta.
Pouco depois, já se podia ver a
brancura paciente da areia aguardando as águas indecisas.
O mar, que o avião fizera mudo e quase
imóvel, vingava-se em brilho e atração imensa. A terra abraçava-o
carinhosamente, defendendo-o do abismo do céu. Era a competição espontânea
entre céu e mar... A curiosidade insistiu comigo para saber do piloto qual a
sua escolha.
O avião fez-se criança para a grande
hora. A porta da cabine ficou branca para não contar nada a ninguém. Resolvi
transpô-la. Mas, a senhora elegantíssima, de luvas extravagantes, não suportou
mais a minha presença. Atirou-me fora. Sem mar, sem céu, numa queda de regresso
para um quarto escuro de janelas pequenas.
Mas, seguirei de novo, um dia qualquer
de céu de convite, estou certíssima.
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CURIOSIDADES
· Recentemente li uma estatística de que,
a cada ano, é maior o número dos adultos que vivem mais de 80, 90 e mesmo muito
mais. Ainda assim há cientistas
divulgando o estudo de novas vacinas para a vida humana ser sempre prolongada. Seria
interessante perguntar a esses longevos – quase sempre solitários ou reunidos
em casas de repouso, se eles gostariam de viver muito mais.
· Jornais, revistas e panfletos estão
diminuindo ou sendo descartados porque os editores se preocupam em aumentar
apenas as fotos e ilustrações e se esquecem de fazer o mesmo com as letras e
legendas que exigem sempre uma vista jovem. Os jovens hoje preferem os
eletrônicos mais rápidos do que as tradicionais máquinas do passado.
· Conheci duas pessoas; uma pedia a um
parente que trouxesse dos EUA um rádio de pilha que era seu companheiro
inseparável, suprindo tudo aquilo que ela já não conseguia ler; a outra fazia a
mesma encomenda a um parente que ia para a Alemanha. É que o comércio
brasileiro ainda não percebeu que os rádios de pilha são novamente práticos e
mais usados pelos mais velhos, que têm dificuldades em usar os aparelhos
eletrônicos ou ler textos de letras de tipos menores. Quanto mais se vive mais
a vista torna-se enfraquecida.
A
PEDIDO
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