Dentro
de tuas auroras, orvalhadas ainda, colho as flores mais estranhas deste sonho e
nada mais me assusta. Não se pode temer o crepúsculo dentro da felicidade que
se esboça em todos os horizontes. Quando o roteiro das estrelas faz acederem-se
as velas é porque a luz começa a tocar a Terra. Caminhar torna-se então como
deslizar sobre nuvens ou flutuar sobre águas mansas.
Círculos de bronze marcam a nova
jornada, enquanto como planta floresço, enquanto como pássaro canto e, em cada
voz me reconheço. Ensinar ao mundo o entreabrir de pétalas é tarefa suave de
leves contatos...
Dentro deste encantamento recobro-me de
todas as violências passadas e indefinidas e vejo despertarem rios e fontes
onde beber é a Lei natural e íntima.
Do convívio constante com o mar,
levanto-me para ver crescerem sobre a Terra, todas as perdidas irradiações do
amor, cada dia maior, cada hora mais universal – como um reencontrar de irmão
ou de amorosos muito antigos e quase perdidos. Em cada mão a minha mão se toca
e a reconhece e a estima.
De qualquer lábio brota a mesma palavra
como semente de uma só árvore, como raiz de planta irmã.
Porque tudo é bom, há paz; cada gesto de
amor se corresponde para que se abrevie a fusão final. Pairam, no ar, as
estrelas do milagre; aguardemos o amanhã.
Rosas e violetas marcam o perfume da
estrada, como se dependesse delas chamar os mais incrédulos, acordar os que
dormem, espalhar esperanças, indiscriminadamente...
Sem dúvida é tempo de auroras mais
brilhantes.
Por que, então, se teria medo deste céu
liso, imponderável, falando azul em todas as dimensões? Por que se desconhecer
sua força que ultrapassa nossos limites numa promessa mágica de infinito?
Há, pairando no ar, um chamado violento
de amplidão. E, cada vez que o céu se põe assim, morre-se um pouco para a
Terra, esvai-se da carne, desenraiza-se do solo, tentando levantar-se acima dos
divisores das serras distantes. Cada vez que ele mostra-se assim, desliga-se do
mundo, esquecendo-se compromissos que não nos dizem nada dentro da unidade
comum, para que a solidariedade aflore. Nesta hora comunga-se com o último e
mais puro azul.
Cada vez que se renova o convite, sem
desvão ou sombras, liberta-se do grande instinto de ser parcela, de persistir-se
isolado. Desvitalizam-se as dimensões, as afirmações individuais e divididas
para se atingir um todo que nos assombra e absorve; que nos completa.
Dentro das auroras orvalhadas, há um
primeiro passo para a realidade, prepara-se a definitiva largada, repleta de
infinito e sente-se que tudo é pobre junto ao conhecimento maior.
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