sábado, 26 de abril de 2014

Muito de leve

E porque a voz do tempo elevou-se e soletrou claramente AZUL, vamos começar o dia num diálogo leve, sem compromissos, sem sustos. Vale tomar nas mãos um pedaço da manhã e esquecer que a Terra está cheia de lutas e seus caminhos cada vez mais perigosos – e, sabemos todos, que nós temos parcela de culpa nele.
       Mas hoje, vamos, egoisticamente, roubar uma hora apenas para nosso encontro e despreocupado sorrir, antes que, entre nós, se desfaça o encantamento das coisas já exploradas, já conquistadas, já exauridas. Como se apenas nós tivéssemos acordado agora tão cedo, e caminhássemos dentro do inconfundível perfume da madrugada envolta em silêncio, tão dominada pela imponente copa das árvores e pelo confuso semi-definir das silhuetas que vão ser banais em pleno sol.
       A ternura mansa que penetrou as tuas últimas palavras pode modificar todo o semblante do dia como se elas devessem libertar as mais ignoradas esperanças. Tudo, num passe de beleza, em que este pedaço de azul insinuado no céu é a grande mola do espetáculo, do carinho muito antigo, tudo se ilumina. O que dormiu profundamente, às vezes, na fusão de tua palavra e deste ingênuo clarear de madrugada, faz um milagre que pouca gente perceberia, pelo menos, antes que os sinais violentos despertassem os mais céticos.
       De palavra em palavra, vê-se o teu rosto transformando-se como comandado por um tempo que não é mais novo nem muito velho, mas sem idade e que se torna dono de toda a irrealidade para mostrá-la na sua face mais concreta, como se nela modelasse a estátua da plena liberdade.
       Então, rapidamente, antes que o dia se implante, aproximo-me e reconheço este encontro e o proclamo intraduzível. O vento aceita-te assim e reconheço que há um novo momento em nossas vidas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sou fã de seus textos. Como escreve bem!