E
porque a voz do tempo elevou-se e soletrou claramente AZUL, vamos começar o dia
num diálogo leve, sem compromissos, sem sustos. Vale tomar nas mãos um pedaço
da manhã e esquecer que a Terra está cheia de lutas e seus caminhos cada vez
mais perigosos – e, sabemos todos, que nós temos parcela de culpa nele.
Mas hoje, vamos, egoisticamente, roubar
uma hora apenas para nosso encontro e despreocupado sorrir, antes que, entre
nós, se desfaça o encantamento das coisas já exploradas, já conquistadas, já
exauridas. Como se apenas nós tivéssemos acordado agora tão cedo, e
caminhássemos dentro do inconfundível perfume da madrugada envolta em silêncio,
tão dominada pela imponente copa das árvores e pelo confuso semi-definir das
silhuetas que vão ser banais em pleno sol.
A ternura mansa que penetrou as tuas
últimas palavras pode modificar todo o semblante do dia como se elas devessem
libertar as mais ignoradas esperanças. Tudo, num passe de beleza, em que este
pedaço de azul insinuado no céu é a grande mola do espetáculo, do carinho muito
antigo, tudo se ilumina. O que dormiu profundamente, às vezes, na fusão de tua
palavra e deste ingênuo clarear de madrugada, faz um milagre que pouca gente
perceberia, pelo menos, antes que os sinais violentos despertassem os mais
céticos.
De palavra em palavra, vê-se o teu rosto
transformando-se como comandado por um tempo que não é mais novo nem muito
velho, mas sem idade e que se torna dono de toda a irrealidade para mostrá-la
na sua face mais concreta, como se nela modelasse a estátua da plena liberdade.
Então, rapidamente, antes que o dia se
implante, aproximo-me e reconheço este encontro e o proclamo intraduzível. O
vento aceita-te assim e reconheço que há um novo momento em nossas vidas.
Um comentário:
Sou fã de seus textos. Como escreve bem!
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