O
doce, porém firme convite do não-dizer pode salvar o momento. O encontrar-se no
silêncio ou nas palavras diferentes que fingem mudar o curso do pensamento mais
forte, mais atuante, conduzem à fronteira certa. O diálogo que amanhece e
alonga-se, encobrindo o não-dizer mais íntimo e secreto para a difícil escolha,
é necessário.
A realidade que vive sem palavras
procurando o silêncio ou o esquecimento. No último dia deve ter sido assim,
pelo que me disseram: um único diálogo simples e lento, vivo e quieto, vago, um
desconversar quase sem sentido, como se estivessem dissolvendo-se. Depois um
até-logo breve, inconsequente, para encerrar o anti-diálogo. Não houve pressa
para ganhar o silêncio.
Entretanto, tudo estava estranhamente
iluminado de azul, de fim de sol, de ar novo, como se não fosse acabar; como se
as árvores perguntassem e o céu respondesse o que não foi falado; como se as
ruas entendessem e o cenário fosse para as pessoas em júbilo, libertas. E era o
fim.
Pelo não-dizer a importância crescia
mais, resolvida ao útil sacrifício do silêncio que deixou limpo o sol, serena a
tarde, tranquilos os corações. Depois... a rotina dos passos mansos.
O não-dizer heróico cumpriu sua
missão. A luta que se impôs manteve a dignidade, talvez a Paz, por certo a
quietude que pode imitar a morte ou, quem sabe, a espera de um novo século.
No silêncio a palavra vai ficar muito antiga, porém,
muito viva, quase absoluta, na sua forma, no seu canto mudo. Tudo então poderá
renascer, algum dia, em alguma parte.
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