quarta-feira, 9 de maio de 2018

Apenas Saudade...


Entrando na sala, revi a toalha sobre a mesa.  Um linho ainda amarelo vivo, bordado com holandesas de saia vermelha, apertou-me o coração. O passo diminuiu, os olhos pararam, a sala segurou-me.

Fiquei transitando no susto da reminiscência de quem quer e teme e não desvenda. Abri os olhos, fechei-os parada entre o passado e o presente, sem lugar definido.  O sentimento doeu-me naquele pedaço de pano retirado da infância. Dor sem explicação, sem vínculo, sem roteiro certo. A toalha ligou-me ao que eu não mais sabia: flor de festa, pedaço de lágrimas, canção de dúvida.

--- O que? ---Por que? Fragmento do que foi, saudade talvez. Uma pergunta longa sobre os olhos úmidos e a garganta seca. A toalha puxando um sentimento velho e novo. Saudade.

Encontro profundo com algum instante muito amado, ou, quem sabe, muito sofrido. A toalha dos dias de festa, dos dias de aniversário, dos tempos de criança. Rumor do riso de mil bocas que se desgarraram neste mundo, perdidas em casas novas e cidades afastadas.

No avental da holandesa havia uma palavra prestes a escapar-se e qualquer coisa indefinida em suas faces de bonecas mudas. Dominando tudo, o impacto de um amarelo muito antigo e verdadeiro, muito real e infantil, nos olhos já adultos. E a cor permaneceu sempre comigo, fazendo história, dizendo poema, inventando. Dei-lhe forma e ternura para que me libertasse. Porém, ela preferiu permanecer incógnita sob aquele linho.

Um amarelo que se repete sempre e se completa como um sonho de Van Gogh, para um dia, quem sabe, revelar-me o segredo final.
Mas, no momento, é apenas saudade.

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