Entrando na sala,
revi a toalha sobre a mesa. Um linho
ainda amarelo vivo, bordado com holandesas de saia vermelha, apertou-me o
coração. O passo diminuiu, os olhos pararam, a sala segurou-me.
Fiquei transitando no
susto da reminiscência de quem quer e teme e não desvenda. Abri os olhos,
fechei-os parada entre o passado e o presente, sem lugar definido. O sentimento doeu-me naquele pedaço de pano
retirado da infância. Dor sem explicação, sem vínculo, sem roteiro certo. A toalha
ligou-me ao que eu não mais sabia: flor de festa, pedaço de lágrimas, canção de
dúvida.
--- O que? ---Por
que? Fragmento do que foi, saudade talvez. Uma pergunta longa sobre os olhos
úmidos e a garganta seca. A toalha puxando um sentimento velho e novo. Saudade.
Encontro profundo com
algum instante muito amado, ou, quem sabe, muito sofrido. A toalha dos dias de
festa, dos dias de aniversário, dos tempos de criança. Rumor do riso de mil
bocas que se desgarraram neste mundo, perdidas em casas novas e cidades
afastadas.
No avental da
holandesa havia uma palavra prestes a escapar-se e qualquer coisa indefinida em
suas faces de bonecas mudas. Dominando tudo, o impacto de um amarelo muito
antigo e verdadeiro, muito real e infantil, nos olhos já adultos. E a cor
permaneceu sempre comigo, fazendo história, dizendo poema, inventando. Dei-lhe
forma e ternura para que me libertasse. Porém, ela preferiu permanecer
incógnita sob aquele linho.
Um amarelo que se
repete sempre e se completa como um sonho de Van Gogh, para um dia, quem sabe,
revelar-me o segredo final.
Mas, no momento, é apenas
saudade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário