quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O despertar real

Perdida entre a multidão, como flor do campo, semi aberta, vinda ao mundo para procurar, descubro-me. Transpondo a ponte desdobro-me para contar a todos a transformação.
Vinda da nebulosidade, da luta e do cansaço, percebo que é claro o despertar. Vinda da noite sem estrelas, toco o clarão da luz da madrugada e sei que ela não tarda. O chão está prateado e a paisagem é da imponderabilidade, de leveza, de susto pelo inesperado do esplendor.
Cedo a terra nos germina e, em nós, nada se salva senão a luz que emerge do grande abismo para o grande horizonte. Nada é permanente senão o contínuo despertar, o acordar-se a cada portal e maravilhar-se para continuar o aperfeiçoamento.
Perdida como flor do medo e da luta, descobre-se um dia a identificação com o infinito e começa então a transformação. Caem os obstáculos, os apegos, o efêmero, os gostos do tempo. Na grande solidão que marca o real conhecimento dos valores, são mudados os alicerces, renovadas as expressões e as metas.
Já quase sem palavras chega-se à aurora; já sem forma de comunicação procura-se trazer as últimas mensagens como a tentar traduzir o indescritível. Há tempo de falar e tempo de calar. Nosso silêncio começa a se infiltrar e, dentro dele, vamos ser amigos na distância e no reencontro, no alvorecer.
Há tempo de chegar e de se despedir. Nosso tempo de permanência vai-se esgotando, poucas são as palavras ainda adormecidas, marcando as horas da libertação. No amanhecer percebe-se outra aurora.
Agora expande-se um glorioso canto, como mares que se juntam e ventos que se irmanam. Há um espontâneo rejubilar da natureza inteira. Já não se pode reprimir ou ignorar essas belezas, tanto elas crescem e se desdobram, vindas da paz interna. É como a maré que avança, ou o eclodir da primavera. É tão alto o canto da vida e a magnífica presença é tão forte que tudo transforma.
Internas fronteiras ensaiam um hino que ecoa no infinito. Violento crescer de planta em terra fertilíssima onde germina. A luz mostra-nos o transcender de limites da forma e da fala. O som transmite a onipresença do Verbo criador. É o canal por onde jorra a luz que também se ilumina e agradece o contato. Momentaneamente um rastro de alvorada se instala e a mente para em intraduzível beleza.

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Uma Epifania

Sem dúvida, emocionou-nos muito o belo artigo que o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna escreveu, dia 19 de Setembro, no jornal O Estado de Minas. Sentimos que ele chegou ou tem chegado muito próximo de um dos portais de outras dimensões que de diversas maneiras outros, hoje, já estão buscando também.
São portais que já não podemos negar e que muitos buscam alcançar das formas diversas: religiosas, místicas, científicas, psicológicas, para-normais, etc.
Muitos já creem que a luz cósmica que nos dá vida está dentro de nós e não fora. Mas atingí-la é um dom ou graça que nem todos conseguem alcançar.
Acho que você chegou junto ao etérico, onde a luz crística a todos nos deslumbra; pulso e coração disparados, a energia superior aproximando-se; é o caminho meu amigo e colega do tempo em que também militávamos em jornais, eu já nessa busca que não é fácil atingir. Parabéns caro Affonso!

Um comentário:

Anônimo disse...

Belas e profundas palavras do grande Affonso.

Querida Célia, como você sabe a séculos, nossos egos (da maioria:90%) estão e são letárgicos.
Os condicionamentos, os padrões, as ilusões do mundo material, nos fazem e nos mantém escravos de Forças Retrógadas. (ou elas que atuam fazendo isso!)

Vejo inúmeros conhecidos às duras penas para se libertarem de tais forças que subjugam nosso frágil e ignorante ego. - E eu também estou nessa!

Você disse que o "despertar para o Real", é um dom que nos vem ou nos chegam pela Graça Divina. (Li isso em alguns livros).

Apesar dos meus 30 anos de busca espiritual e inconstantes tentativas de aplacar um pouco minha incomensurável ignorância, realmente pude constatar que não é tão somente desejar, querer e buscar o "Despertar para o Real".

Há algo mais, sem dúvidas!

Na minha humilde e limitadíssima maneira de ver isso, creio que só depende da Alma, o núcleo interno.

Por parte do ego, a única coisa que pode ser feito é "jamais desistir", acreditar sempre e aguardar, ainda que às duras penas, pelo o momento do Despertar.

Conheço, vi e já estive com pessoas Despertas em certos lugares, e notei "algumas" características bastante incomuns em nosso viver diário: falam pouquíssimo, estão sempre orando, não reclamam de nada, meditam diariamente, são silenciosas, sempre dispostas a ajudar, compassivas, amorosas, Conscientes, conectadas, impessoais, imparciais, etc.

Ora, querida Célia, você concorda que tais coisas são de uma dificuldade inimaginável para a maioria de nós, egos adormecidos???????

Parece-me que isso requer centenas de encarnações para ser alcançado!

Sei que há nos tempos atuais grande estímulo nessa direção, para o Despertar, para ficarmos Conscientes e conectados com o Eu Superior.
Mas até onde "posso ver", só querer, desejar, buscar, se abrir, rezar, aspirar, pedir, implorar, chorar, esperniar, etc., não basta!

É alguma coisa, mas está longe de ser o suficiente.

Li alguns excelentes livros de Paul Brunton, Trigueirinho (audições também!), Ramanaa, Alice Bailey, Angela Maria L.S.Batá, Huberto Rohden, etc., e, teoricamente, fiquei bastante animado, disposto, entusiasmado e coisa e tal. Mas de nada adiantou! - Meu ego continuou e continua dormindo feito pedra....rs!!!

Quais são as tuas considerações sobre isso?
Como vê e percebe a situação planetária, hoje, no que se refere às mentes adormecidas? O que de melhor pode e deve ser feito pelos os que estão no limiar desse Despertar?

E por último, você crê Transformações Profundas já estão ocorrendo em todos os níveis e setores humanos e planetário, e que poderá se precipitar níveis mais "delicados" a qualquer momento? Crê nisso?

Que dizeis? - Namastê!