Um místico som de cítara, comandando o ritmo
interno, talvez o manso ondular do vento, sobre velha palmeira, fez aflorar no
interior reminiscências de um longo viver.
No
relembrar saudoso, surgiram guirlandas de flores e guisos do templo; as longas
vestes de caminhantes, cujos pés conheceram vales e montanhas, lagos e grutas
consagradas, no seu buscar incessante.
No
sombrear da noite, figuras chegaram e se juntaram ao rio sagrado, como antenas
eretas a pesquisar o céu. Por vezes, ecoaram sons de místicas palavras...
Tudo
parecia acordar velhas e perdidas memórias de um tempo raro. E, no leve
acordar, impunha-se a necessidade, muito urgente, de refazer histórias para dar
continuidade ao longo caminhar, de eras bem remotas. Crescia o dever de
entrelaçar etapas, num fluir e refluir da consciência que desperta e se apaga,
sucessivamente, até que a luz se imponha definitiva.
O
Portal do passado já não sabe como reter seus mistérios, como esconder o germe
da primeira claridade latente. – Que desça a paz sobre os tropeços do caminho,
que chegue logo o acordar definitivo, para surpreender as fantasias e
simbolismos que compuseram o degrau primário. Que a palavra encontre sua
correta função. Que possa gotejar sobre tudo e sobre todos, o crescente
irradiar da verdade e da luz que se esforça, agora, para ampliar-se sobre o
mundo.
As
Verdades, grandes como a própria vida, são simples, como a mente do mais
simples dos homens. Por isso, às vezes se indaga: - De que reminiscência vem
este reconhecimento místico? – De onde crescem as belezas, vindas da Luz e do
mais profundo e pessoal sentir?
São
planos que se ligam para se comunicarem; é o humano desmaterializando-se. É
como um revoar de asas brancas sobre resplandecente lótus, um cristalizar de
pérolas sobre profundas águas. É Tua revelação que deslumbra os ofuscados olhos
quando, de outras esferas, comandas o renascer do Espírito.
- De que energia cósmica se reveste o Ser, à
simples reminiscência dessa elevadíssima vibração evocada?
É
como um reconhecer antigo, um querer secular; como atingir cristalinos e
inviolados lagos. É um aprofundar-se em regiões de luz, onde o Sol dissolveu
seu constante iluminar. Carinhoso reencontro de almas na purificação do fogo
vivo, aquietamento no silêncio espesso que vem depois da procela, não antes,
não antes!
-
O magnífico despertar de onde parte? Esse clarim de festa insuspeitada, criação
do som, da forma ou da cor? Já não há como fugir do enleio, como não
dissolver-se no Infinito.
Todas as palavras são curtas, incompletas e mudas para o
material desdobramento. É a voz audível do Mestre, o velho reencontro, o
pressentir da graça que retorna.
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