domingo, 1 de setembro de 2013

Volta ao passado



Um místico som de cítara, comandando o ritmo interno, talvez o manso ondular do vento, sobre velha palmeira, fez aflorar no interior reminiscências de um longo viver.

         No relembrar saudoso, surgiram guirlandas de flores e guisos do templo; as longas vestes de caminhantes, cujos pés conheceram vales e montanhas, lagos e grutas consagradas, no seu buscar incessante.

         No sombrear da noite, figuras chegaram e se juntaram ao rio sagrado, como antenas eretas a pesquisar o céu. Por vezes, ecoaram sons de místicas palavras...

         Tudo parecia acordar velhas e perdidas memórias de um tempo raro. E, no leve acordar, impunha-se a necessidade, muito urgente, de refazer histórias para dar continuidade ao longo caminhar, de eras bem remotas. Crescia o dever de entrelaçar etapas, num fluir e refluir da consciência que desperta e se apaga, sucessivamente, até que a luz se imponha definitiva.

         O Portal do passado já não sabe como reter seus mistérios, como esconder o germe da primeira claridade latente. – Que desça a paz sobre os tropeços do caminho, que chegue logo o acordar definitivo, para surpreender as fantasias e simbolismos que compuseram o degrau primário. Que a palavra encontre sua correta função. Que possa gotejar sobre tudo e sobre todos, o crescente irradiar da verdade e da luz que se esforça, agora, para ampliar-se sobre o mundo.

         As Verdades, grandes como a própria vida, são simples, como a mente do mais simples dos homens. Por isso, às vezes se indaga: - De que reminiscência vem este reconhecimento místico? – De onde crescem as belezas, vindas da Luz e do mais profundo e pessoal sentir?

         São planos que se ligam para se comunicarem; é o humano desmaterializando-se. É como um revoar de asas brancas sobre resplandecente lótus, um cristalizar de pérolas sobre profundas águas. É Tua revelação que deslumbra os ofuscados olhos quando, de outras esferas, comandas o renascer do Espírito.

         - De que energia cósmica se reveste o Ser, à simples reminiscência dessa elevadíssima vibração evocada?

         É como um reconhecer antigo, um querer secular; como atingir cristalinos e inviolados lagos. É um aprofundar-se em regiões de luz, onde o Sol dissolveu seu constante iluminar. Carinhoso reencontro de almas na purificação do fogo vivo, aquietamento no silêncio espesso que vem depois da procela, não antes, não antes!

         - O magnífico despertar de onde parte? Esse clarim de festa insuspeitada, criação do som, da forma ou da cor? Já não há como fugir do enleio, como não dissolver-se no Infinito.
         Todas as palavras são curtas, incompletas e mudas para o material desdobramento. É a voz audível do Mestre, o velho reencontro, o pressentir da graça que retorna.

Nenhum comentário: