Perdida entre a multidão, como
flor-de-areia, semi-liberta, vinda ao mundo para procurar; descubro-me.
Transponho a ponte, desdobro-me para contar a todos a transformação.
Vinda da nebulosidade, da luta e do cansaço,
percebo que é claro o despertar. Vinda da noite, sem estrelas, toco o clarão da
lua e sei que a madrugada não tarda. O chão de violetas prateou-se, e a
paisagem é de imponderabilidade, de leveza, de susto pelo inesperado do
esplendor.
Cedo a Terra nos germina e, em nós, nada
se salva senão a luz que emerge do grande abismo, para o grande horizonte. Nada
é permanente a não ser o desdobrar e o acordar a cada novo portal, e
maravilhar-se pelo continuar.
Perdida como flor do medo e da luta,
descubro um dia a identificação com o infinito e a transformação começa então.
Caem os obstáculos, as belezas se externam, os apegos se desfazem. Na grande
solidão que marca o real conhecimento, os valores são mudados, os alicerces
reforçados e as expressões claramente marcadas.
Já sem palavras, chega-se à aurora, já
sem forma de comunicação concreta, procura-se trazer as últimas mensagens como
se ainda se tentasse transmitir o informal e o indescritível.
Há tempo de falar e tempo de calar.
Nesse silêncio começa a si infiltrar e, dentro dele, vamos ser amigos da
distância, da luz e da beleza do alvorecer. Há tempo de chegar e de se
despedir. Nosso tempo de permanência vai-se consumindo em palavras adormecidas
no estoque do tempo que nos pertence.
Começa-se a amanhecer e percebe-se que
outra aurora deve ainda renascer. Já não se sabe como reprimir ou ignorar tanta
beleza. Tanto crescer e desdobrar-se vindo do interior.
Como rio que transborda ou maré que
avança, como o eclodir da planta em plena primavera, sucedem-se os
encantamentos. É tão alto o canto da vida e a magnífica presença é tão forte
que já não se suporta apenas a vivência, é preciso também a manifestação, a
comunicação.
As internas fronteiras se dilatam como o
hino a reboar em infinitos horizontes, num alargamento de paz e integração.
Violento crescer do botão, em terra fertilíssima. As germinações da luz
transcendem a humana expectativa do contato único e brotam transbordamentos
além do sentir, do ver e do ouvir.
A voz transmite a onipresença no Verbo criador,
em amorosa e majestosa canção. E o canal por onde jorra a luz também se
ilumina. Momentaneamente, um rastro de alvorada se instala, e a mente pára e se
assombra, ante a intraduzível beleza que eleva e enleva.
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