quinta-feira, 5 de julho de 2018

Comunicação

E, de repente, estávamos assim lado a lado e sorrias tantas alegrias, que parecia haveres sintetizado o sonho de mil histórias construídas para a festa mais sutil e leve de nossa vida.
E, por muito tempo, permanecemos juntos, às vezes dialogando – sem vê-lo – com todo um grupo interessado em concretas realidades, em banais realidades.
Tudo assistíamos, de tudo aparentemente participávamos para que nosso embaraço fosse escondido de nós mesmos e do medo de, de repente, sentirmos que nos comunicávamos, suavemente, fora da órbita em que gravitavam as conversas e os interesses mais imediatos.
E, lembro-me bem, era o teu sorriso muito amplo, um tanto nervoso, belamente artificializado que marcava mais aquela hora, como se dele dependessem todas as nossas futuras alegrias. E, nesta hora, a profundidade dos teus olhos se fez tão sem limites que, por um instante, achei-me perdida na noite mais cheia de constelações, e labirintos e grutas. Encantou-me a presença luminosa de realidades que não iriam jamais amanhecer, pois são demasiado fugazes todas as viagens pelo interior iluminado de um olhar assustado e irreprimivelmente aberto a outro olhar.
E, por um momento, a noite foi mais fantástica do que as histórias e as realidades palpáveis, tão distanciadas de nossa peregrinação de loucos poetas pelo mundo do faz de conta, pela terra dos estreitos encantamentos que só atingimos quando se purifica uma parte de nosso ser pelo amor, enlevo ou a indefinida ternura.
E, o mais estranho, é que depois, como se a noite se apagasse, não chegamos, sequer, a nos despedirmos.

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