Não te aborreças e toma em tuas mãos, como
passageiro, este transbordar de rosas silvestres, em plena floração, projetando
perfume e espinho. Este é o caminho que me foi dado e, se cruzar com o teu, não
te assustes, posso ser apenas a viajante.
Vim marcada, inquieta com tantas pétalas de
veludo e cor, como um vegetal; mais emoção que planta, mais harmonia que som
pleiteando o sol.
Levantar, cada vez mais, as palavras sob o
sopro do vento e em direção à luz é como ter brasas sob os pés e pira sob o
corpo. Só a promessa de um céu puro, além do abismo, nos anima e, como estamos
lado a lado, conheço-te as lutas, as marcas de fogo sobre os dedos. A cada novo
caminho, nosso transporte reagirá como flor cujo destino é evoluir e crescer
para dominar todas as sombras.
Mas, viemos tão mansamente, tão
inesperadamente que cada palavra nossa, igual, é uma surpresa; cada
reconhecimento é um reencontro de passado e de vida. De todas as formas que
sabemos armar e que nos unem mais, apesar de todas as fugas, a mais sutil é a
que se esboça sob o quase-sorrir, o
quase-falar, o super-sentir de planta que vai pleitear a eternidade.
A dádiva que cada espera, que não buscamos,
vem ao nosso encontro, como coisa própria e estabelecida, conquistada através
de séculos, para a compreensão final.
A abstração do que fomos ou do que seremos
são românticos pontos de contato na aridez de nossas vidas; como se só assim
pudéssemos prosseguir.
Apesar de todos os subterfúgios e a constante vigilância que nos impusemos para que nada fosse revelado, nada fosse muito comum, o encontro foi sempre uma realidade que tanto nos assustava quanto hoje nos engrandece e explode a cada hora.
(Extraído do livro LUZ SOBRE O MAR, editado pela Imprensa Oficial, BH, 1967
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